Porque o PT não quebrou o Brasil

Muitas vezes ouvimos a frase “o PT quebrou o Brasil”. Mas será mesmo que os problemas econômicos e estruturais do nosso país começaram em 2003, quando o partido chegou ao poder? A história mostra que não. O Brasil carrega, desde o período colonial, um conjunto de dificuldades estruturais, crises cíclicas e decisões políticas que impactaram sua economia.

Heranças do Brasil Colônia

Desde a colonização, a economia brasileira foi construída de forma extrativista e dependente. Primeiro, com o pau-brasil, depois com o açúcar, ouro, café e outros ciclos. Em todos eles, a riqueza gerada era concentrada e voltada para fora, deixando pouca estrutura interna. Essa lógica criou um país dependente da exportação de produtos primários e sem planejamento de longo prazo, o que se refletiu na ausência de infraestrutura básica e na desigualdade social que se consolidou ao longo dos séculos.

A precariedade da capital e o início da República

Durante o Segundo Reinado, a cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil, já apresentava sérias precariedades urbanas, como falta de saneamento, surtos de doenças e habitações insalubres. Esse cenário piorou no início do século XX, quando ocorreu a Revolta da Vacina (1904). A tentativa de modernizar a cidade esbarrou em uma população marginalizada que vivia em condições precárias e não teve acesso adequado à informação, resultando em revoltas populares. Esses problemas urbanos mostram como a falta de estrutura acompanhou o país desde cedo, muito antes de qualquer governo contemporâneo.

No Período Regencial (1831-1840), quando o Brasil ainda buscava consolidar sua unidade após a abdicação de Dom Pedro I, o país viveu uma série de revoltas regionais e até tentativas de separação, como a Cabanagem, a Balaiada, a Sabinada e a Farroupilha. Essas rebeliões ocorreram justamente pela ausência de políticas que atendessem a todo o território, revelando a fragilidade da construção do Estado brasileiro e a dificuldade de integrar um país de dimensões continentais.

Quando a República foi proclamada em 1889, o país ainda não tinha bases sólidas. O primeiro governo presidencial de Deodoro da Fonseca (1889-1891) não se sustentou, resultando em crise política e na sua renúncia em 1891. Ou seja, bem antes de qualquer partido atual, já havia instabilidade no poder e dificuldade em consolidar uma economia organizada.

Café com Leite: concentração do poder

Durante a chamada República Oligárquica (1894-1930), a política do “Café com Leite” concentrou a gestão pública nas elites de São Paulo e Minas Gerais, deixando grande parte do Brasil à margem. Essa centralização não resolveu problemas estruturais, mas aprofundou desigualdades regionais, já que investimentos e decisões ficavam restritos ao eixo Sudeste, sem atender às necessidades de desenvolvimento das outras regiões do país.

A era Vargas e os primeiros presidentes eleitos

Getúlio Vargas (1930-1945; 1951-1954) deixou legados importantes, como a CLT e direitos trabalhistas, mas também contraiu dívidas externas significativas para financiar sua política industrial. Seu projeto de modernização foi importante, mas aumentou o peso da dependência financeira. Em seguida, Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) liberalizou importações de forma precipitada, gerando enorme déficit na balança comercial e prejudicando a indústria nacional. No último governo de Vargas (1951-1954), o país enfrentou sérias pressões inflacionárias e dificuldades financeiras, culminando em forte instabilidade política.

JK e o endividamento acelerado

O presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), com o seu Plano de Metas e a construção de Brasília, impulsionou o crescimento econômico e abriu espaço para a indústria automobilística, mas deixou também um rastro de gastos exorbitantes e forte endividamento externo. A famosa promessa de “50 anos em 5” teve como efeito colateral o aumento da dívida e da inflação, problemas que se tornariam ainda mais graves nas décadas seguintes.

Ditadura Militar e a crise econômica

O regime militar (1964-1985) promoveu inicialmente o chamado “milagre econômico”, com crescimento acelerado do PIB e grandes obras de infraestrutura. Porém, esse crescimento foi financiado por empréstimos externos e sustentado por uma inflação galopante. Na década de 1980, o Brasil mergulhou na chamada “década perdida”, marcada por hiperinflação, desemprego e crise da dívida externa. A ausência de políticas sólidas de redistribuição de renda manteve a desigualdade em patamares alarmantes.

Governos pós-ditadura: Collor e FHC

Fernando Collor de Mello (1990-1992) iniciou seu governo com promessas de modernização, mas mergulhou o país em recessão, confiscou poupanças e não conseguiu conter a inflação. Depois, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) estabilizou a moeda com o Plano Real, mérito inegável, mas ao mesmo tempo elevou a dívida externa e privatizou setores estratégicos a preços questionados. Ao final de seu governo, o Brasil enfrentava altas taxas de juros, dependência do FMI e dificuldades sociais persistentes.

O Brasil em 2003: chegada do PT

Quando o PT assumiu em 2003, o país já acumulava séculos de problemas estruturais e crises econômicas herdadas. Ainda assim, os governos petistas implementaram políticas que trouxeram avanços concretos. Houve redução expressiva da pobreza e da extrema pobreza, aumento real do salário mínimo e ampliação do acesso ao ensino superior por meio de programas como Prouni, Fies e a criação de novas universidades federais. Programas sociais como o Bolsa Família tiveram alcance histórico e o país conseguiu reduzir de forma significativa sua dívida externa, transformando-a em dívida interna, o que aumentou sua soberania econômica.

Concluo dizendo que falar que o PT “quebrou o Brasil” é ignorar toda a trajetória histórica de um país que já nasceu com graves problemas estruturais. Antes de 2003, já tínhamos vivido crises, dívidas, inflação e instabilidade em praticamente todos os governos. O que se pode afirmar é que, apesar das dificuldades, os governos petistas proporcionaram avanços sociais e econômicos que marcaram uma época importante da história brasileira.

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